» Sonhar com ET's
Acto I - o sonho... (ou a realidade?)
Os seres verdes agarravam-me com força enquanto estrebuchava com todas as forças. Preso por todos os lados de nada servia espernear e esbracejar. Já lá vão muitos meses desde que parei de fazer desporto e os pulmões acabam por ceder. Os sons que emitiam faziam apenas sentido para eles próprios. A mim fazia-me doer nos ouvidos, como se já não bastasse. Nos poucos segundos em que ganhava fôlego para voltar a lutar para me ver livre, percebia que estava numa divisão desconhecida, munida dos mais estranhos aparelhómetros com luzes por todo o lado. Os próprios aparelhos emitiam sons imperceptíveis, apenas interpretados pelo ser verde que, mesmo sendo um ET, tinha todo o ar de ser um nerd. Cada vez tinha menos dúvidas... eu tinha sido raptado por ET's e o meu destino era tornar-me um objecto de estudo. Tudo tentava para os fazer parar! Insultei-os ferozmente; cantei Ratos de Porão; gritei pelo Bill Gates denunciando que eles não usavam produtos Microsoft nos aparelhos; soltei exclamações impiedosas, intoleráveis e ridículas, tentando imitar a Graça Abrantes... mas nada... nada os fazia parar... nada lhes metia nojo. O meu destino era esse? O meu destino era esse! Cabrões! Fizeram o mesmo ao Fidel, não foi?! E ele não é suficiente? Eu não quero que me metam uma bala na cabeça! Isso não! Eu não querooooooo...
Sacudi-me violentamente... cabeça para um lado e para o outro... cabelos meus esvoaçaram entrando nos olhos gigantes dos ET's estupefactos. Gritos de agonia ecoavam enquanto me tentava escapar... TCHAM TCHAM PAM... o despertador acordou-me.
Acto II - a dúvida
Quando os sonhos se podem confundir com a realidade, a confusão prevalece e fica difícil conseguir separar as coisas. À medida que andava de bicicleta a caminho das aulas, o pensamento consumia-me. E eu já vi em filmes... em que não sabemos se num momento estamos acordados ou a sonhar. Enquanto arrumava a bicicleta pensava se estaria agora a sonhar e se os ET's é que eram a realidade. Durante a primeira hora da aula de Food Physics tentava concentrar-me... e combatia o sono. No entanto a dúvida era: estava a combater para me manter acordado, ou estava a combater para me manter a dormir... a sonhar? Como, apesar de tudo, estava bem mais confortável na aula do que na sala alienígena agarrado por ET's... decidi tentar manter-me neste lado.
Acto III - a realidade... (ou o sonho?)
Achei que seria uma boa ideia ficar concentrado e tentar encontrar sinais que me indicassem que estava no lado real... ou sinais que me indicassem que estava a sonhar.
O intervalo da aula acabou. Portugueses, espanhóis, holandeses e chineses estavam sentados e o professor (o Leonardo das Sagas) tentava recomeçar a lição. Portugueses, espanhóis e holandeses estavam já calados... mas os chineses falavam como nada se passasse... "chin song maa taa djing yong...". Leonardos das Sagas dizia então algo como "Excuse me... shall we resume our lecture?". E os chineses, a cagar d'alto, continuavam... "tioing iang chuoin xin ping snong...". Leonardo das Sagas, então, elevou um pouco a voz soltando um "Ok... may I have your attention, please?". E então não é que os chineses, como se estivessem incomodados com aquela voz que os importunava, elevaram em conjunto a voz exclamando uns espantosos "XONG MING TWONG BONG JUING XONG CHIN!". AH AH AH, estes chineses são demais! Cada vez mais alto "chiong chun min tong!" AH AH AH, "MIONG XUONG CHIN TING"...AH AH "SHUT THE FUCK UP!"
Estranho...
Fora da aula... os bombeiros chegavam (e não havia fogo!). Fora do edifício arte acontecia (e não estão cá os freaks da cantina). No parque de estacionamento algumas biclas têm coisas ao contrário. Em casa a Iris dá-me choques. Desde que chegámos o Hugo ainda só se espetou uma vez.
Tudo estranho...
Confundido, decidi desanuviar passeando em Utrecht. E vi isto.
Estranho...
Acto IV - de volta ao sonho... (ou à realidade?)
Achei que tinha provas suficientes... e decidi voltar a dormir... e voltar a sonhar. Ou devo agora usar a palavra "pesadelo"? Eh eh eh...
Acto V - a resposta
Não sei. Não sei de que lado estou. Foi o Fidel, isso de certeza. Mas preciso da opinião de quem está de fora.